“Eu nunca estou só; o Pai está sempre comigo, porque faço tão somente o que é do seu agrado”. (Evangelho)
Como Jesus, de cuja autoria são os dizeres acima, o
homem também nunca está só. Ele é, por natureza, um ser rigorosamente
sociável.
Recluso na cela dos conventos, foragido no deserto,
balouçando sobre as águas longínquas do mar, entranhado no seio da
terra, constrangido no âmbito mesquinho do calabouço – o homem jamais se
encontra só, o homem jamais deixa de viver em companhia de alguém.
Os profetas antigos, quando buscavam os desertos,
fugindo ao bulício mundano, não o faziam com intuito de se insularem;
procuravam estabelecer, de uma forma mais positiva e permanente, a
comunhão com o Céu, a fim de se prepararem para o desempenho das
respectivas missões de que se achavam revestidos.
Os planos – físico e psíquico – estão entrelaçados. Os imortais convivem com os mortais em franca camaradagem.
O pensamento é a linguagem por excelência, porque é o
idioma universal. É pelo pensamento que os seres inteligentes,
racionais e conscientes – na rigorosa acepção desses vocábulos – se
ligam e se grupam. O fato de se encontrarem, uns encarnados, outros
desencarnados, não constitui impedimento.
Pelos pensamentos, os seres se atraem, firmando comunhão.
O pensamento, além de ser linguagem por excelência, é
também a força suprema do Espírito. Sem ele, nada se faz: ele a tudo
precede. Aquilo que se sente, se vê e se toca é obra do pensamento.
Antes de existir tal qual o vemos, existiu em imagem
forjada na retorta do pensamento. De lá é que sai tudo que é, e tudo que
virá ser.
As escrituras, quando dizem que Deus tirou o mundo do “nada”, querem dizer que o Onipotente o tirou do seu pensamento infinito. “Faça-se a luz, e a luz foi feita”.
O Universo é fruto do pensamento de Deus. Sobre o divino pensar
repousam seus fundamentos. Jesus é o Verbo de Deus que se fez carne.
Verbo é a enunciação do pensamento; Jesus é a efígie, é a encarnação do
pensamento divino.
A vida manifesta-se pelo pensamento.
“Penso, logo existo” – disse com justeza o filósofo.
O espírito nunca deixa de pensar, achando-se por isso
envolvido em ondas de pensamentos, que elabora e que assimila de
outros, segundo a lei de afinidade que rege este fenômeno.
O Evangelho relata, numa dezena de passagens, que o Mestre via e distinguia os pensamentos dos homens.
Vivemos imersos num oceano de pensamentos. Sobrenadam
à tona desse oceano pensamentos de toda a espécie, emitidos por
habitantes da Terra e do espaço.
O homem, conforme seu estado moral e intelectual,
assimila esta ou aquela categoria de pensamentos e sugestões que de toda
a parte lhe chegam. Consoante as vai recebendo, assim se vai
estabelecendo sua comunhão com os demais seres pensantes.
Eis porque ele nunca está só.
Nosso corpo exala e irradia constantemente, quando
sadio e forte, emanações puras e sãs; quando enfermo e combalido,
emanações mórbidas e pestilentas.
Nossa alma, a seu turno, irradia incessantemente,
quando sã, pensamentos elevados e puros; quando enferma, pensamentos que
são verdadeiros eflúvios deletérios.
A auréola que circunda a fronte dos eleitos do Senhor é luz projetada pelos seus pensamentos de amor.
Jesus considerava o adultério pelo pensamento como um delito consumado.
Tais sejam, pois, nossos pensamentos, tais seremos
nós e tais serão aqueles com quem convivemos. Nunca estamos sós. Jesus
estava sempre com o Pai e seus mensageiros. Nós outros, com quem temos
convivido e com quem ora convivemos, uma vez que nunca podemos estar
sós?
Livro: Nas Pegadas do Mestre
Autor: Vinicius (pseudônimo) – Pedro de Camargo
8ª Edição em 1992 – Editora Federação Espírita Brasileira (FEB) –
Páginas: 266 até 268 – Brasília-DF – 1933
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