A vida é sempre vida seja qual for a forma através da
qual se oculte. Já vivi como pedra, já vivi como planta, já vivi como
homem, amanhã viverei como espírito, e, num futuro longínquo cuja época
não me é dado precisar, viverei como vivem os anjos, os deuses.
Vim do pequeno, caminho para o grande. Meu passado é
obscuro, meu futuro é brilhante. Sou imortal, porque um chispa do fogo
eterno palpita em mim. A primeira e mais substancial das provas de minha
imortalidade está no fato de viver neste momento e saber que vivo. Se
vivo agora é porque vivi outrora e viverei sempre. Se noutras épocas
tive outro nome, pertenci a outras raças, habitei outros países, falei
outros idiomas, que importa? Nesse tempo vivi tão certamente como vivo
hoje. O meu ser pensou, sofreu, gozou, sentiu, amou, tal como faz
atualmente. Perdi minha individualidade? Não, porque minha
individualidade é o meu ser, o meu “eu”, sede
da minha inteligência, da minha razão, da minha consciência e dos meus
sentimentos. Perdi, apenas, a personalidade, a forma, a aparência com
que então me vesti.
Nesta mesma existência, a minha aparência já se
transformou, já se modificou consideravelmente. Casos há em que os pais
desconhecem os filhos quando ausentes por largo tempo, tais as mudanças
operadas em seu físico. Basta que alguém permaneça vinte ou mesmo dez
anos separado de nós para que notemos profundas alterações em seu
exterior.
A vida cada vez se torna mais acentuada, mais
positiva, mais viva mesmo, se tal expressão é permitida. A monera,
considerada como a forma mais rudimentar da vida, já traz em si o cunho
indelével da imortalidade: ela vive porque viveu, e viverá porque vive.
Nada poderá destruir-lhe a essência.
A vida é a manifestação da vontade suprema de Deus.
Ela é instável enquanto se apresenta sob aspectos materiais; é eterna
quando, ressurgindo da carne, se perpetua no espírito.
Negar a imortalidade é negar a própria atualidade. Se
eu vivo, como não viverei? Mas a morte? A morte: que é a morte? Se a
morte tem poder para me destruir, para me aniquilar, como se explica eu
ter morrido muitas vezes e não ter, contudo, sido aniquilado? Dirão os
sábios da Terra que deliro? Pois bem, expliquem-me, então, como é que
trago e conservo comigo os traços veementes do meu passado? Não são
esses mesmos sábios que descobriram e verificaram vestígios da vida
animal na vida humana? Que é a Evolução? Em que consiste, como se
demonstra, senão pela fisiologia aliada à anatomia comparada?
Se é certo, pois, que a vida, passando pelas várias
categorias de que se compõe a larga escala animal – do infusório ao
homem -, não foi destruída apesar das incontáveis metamorfoses que
suportou, metamorfoses a que denominamos morte, a imortalidade é um
dogma incontestável, e a melhor prova que temos a aduzir em seu abono é o
fato insofismável de vivermos no momento atual. Tudo o que vive, viveu e
viverá. Morrer é passar de um estado a outro, é despir uma forma para
revestir outra, subindo sempre de uma escola inferior para outra,
imediatamente superior.
“Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito.” “Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredindo sempre, tal é a lei”.
Livro: Nas Pegadas do Mestre
Autor: Vinicius (pseudônimo) – Pedro de Camargo
8ª Edição em 1992 – Editora Federação Espírita Brasileira (FEB) –
Páginas: 285 até 286 – Brasília-DF – 1933
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