A percepção que nós, encarnados e desencarnados, temos do mundo, do
que ocorre à nossa volta, é proporcional à elevação do Espírito. À
medida que vamos despertando novos patamares de consciência, por força
do trabalho, da experiência e do progresso moral-intelectual, numa
palavra, por força do merecimento, nossa percepção da realidade vai se
ampliando.
Há tantas coisas acontecendo ao nosso redor que, se fosse possível
assimilar todas, ao mesmo tempo ou de uma só vez, enlouqueceríamos. Por
isso, nosso foco de atenção é geralmente direcionado, de forma
instintiva, às nossas necessidades e interesses imediatos.
Enquanto encarnados, habitamos um corpo denso que obscurece as
percepções que temos do mundo que nos cerca. Captamos a realidade por
meio dos limitadíssimos sentidos físicos: visão, audição, tato, paladar
e olfato, que poderíamos designar por “janelas da alma”.
Entretanto, há outros canais que favorecem a eclosão das nossas
potencialidades, por meio dos quais estamos em permanente contato com o
mundo espiritual, ainda que inconscientemente: são os nossos
pensamentos, a intuição, que alguns chamam de “sexto sentido”.
Para isso, não é preciso que sejamos médiuns ostensivos, que dispõem
das faculdades de clariaudiência e clarividência, por exemplo.
Os Espíritos desencarnados, livres da indumentária física, são bem
mais sensíveis aos nossos apelos mentais, razão pela qual os atraímos
com muita facilidade, pois somos todos quais “antenas psíquicas”, que tanto recebemos como emitimos ondas mentais, vibrações, em autêntico processo de sintonia – a base do fenômeno mediúnico.
O apóstolo Paulo nos fala, em Hebreus (12:1), sobre a “nuvem de testemunhas”,
referindo-se aos Espíritos que nos observam e que nos alcançam onde
estivermos, porque para eles não há barreiras físicas. A pergunta é: Que tipo de testemunhas nos acompanha?
Estamos sendo constantemente observados e influenciados, onde quer
que estejamos, no corpo ou fora dele. Temos testemunhas encarnadas, que
são nossos familiares, os vizinhos, os colegas de trabalho, os amigos
da roda social, em todos os setores da vida de relação. Tudo aquilo que
sentimos, pensamos e fazemos igualmente pode interferir, de alguma
forma, na vida de outras pessoas. Bem disse o filósofo anônimo, em
poética hipérbole: “Um simples pensamento é capaz de afetar uma estrela!”.
Daí, urge que zelemos sempre por uma conduta digna, para que os
observadores tenham em nós um exemplo positivo em que se espelhar.
Se, por um lado, durante a vigília, temos como nos furtar às
testemunhas encarnadas, recolhendo-nos em lugares privados, não temos,
por outro, como fugir às testemunhas desencarnadas.
A qualidade de nossos pensamentos e de nossas ações é determinante
para se aferir a categoria de Espíritos que nos espreitam. É como se
eles “ouvissem” nossos “acordes” mentais.
Entre tantos outros, no livro Sexo e Destino,
de autoria do Espírito André Luiz, psicografado pelos médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira, encontramos diversos exemplos que
ilustram a influência recíproca entre encarnados e desencarnados.
Particularmente, chamamos a atenção para o capítulo 6, primeira parte,
em que o autor espiritual descreve a presença de dois desencarnados de
baixa categoria moral, que montavam guarda no apartamento de Cláudio
(encarnado), em preparativos de ações infelizes. Um deles, desejoso de
fruir, irresponsavelmente, os prazeres da bebida alcoólica, induz o
chefe de família, que lia um jornal em confortável poltrona, a tomar um
gole de uísque, gesto repetido por influência do outro comparsa de
aventuras.
Sendo a Terra um dos minúsculos orbes de nossa galáxia, ainda nas
faixas evolutivas menos avançadas, sobretudo no aspecto moral, não é de
se estranhar a preponderância de más companhias espirituais.
Entretanto, depende de nós modificar esta realidade, alterando nosso
modo de sentir, pensar e proceder, pela reconstrução gradual de nossos
hábitos.
Em realidade, a influência mental entre os encarnados e os
desencarnados é um fato corriqueiro e incessante. Os Espíritos são uma
das forças da Natureza e agem conforme essas leis. A interferência
exercida por eles em nossos pensamentos e atos, tanto para o bem quanto
para o mal (dependendo da natureza moral da Entidade influenciante) é
tão grande que, a este respeito, foi dito a Kardec, em O Livro dos Espíritos, na questão 459: “[...] Influem [os Espíritos] a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.
O Benfeitor Emmanuel, em belíssima página, intitulada “As Testemunhas”,
desenvolve, com precisão, o assunto: Este conceito de Paulo de Tarso
merece considerações especiais, por parte dos aprendizes do Evangelho.
Cada existência humana é sempre valioso dia de luta – generoso degrau
para a ascensão infinita – e, em qualquer posição que permaneça, a
criatura estará cercada por enorme legião de testemunhas. Não nos
reportamos tão somente àquelas que constituem parte integrante do quadro
doméstico, mas, acima de tudo, aos amigos e benfeitores de cada homem,
que o observam nos diferentes ângulos da vida, dos altiplanos da
espiritualidade superior.
Em toda parte da Terra, o discípulo respira rodeado de grande nuvem
de testemunhas espirituais, que lhe relacionam os passos e anotam as
atitudes, porque ninguém alcança a experiência terrestre, a esmo, sem
razões sólidas com bases no amor ou na justiça.
Antes da reencarnação, Espíritos generosos endossaram as súplicas da
alma arrependida, juízes funcionaram nos processos que lhe dizem
respeito, amigos interferiram nos serviços de auxílio, contribuindo na
organização de particularidades da luta redentora… Esses irmãos e
educadores passam a ser testemunhas permanentes do tutelado, enquanto
perdura a nova tarefa, e lhe falam sem palavras,
nos refolhos da consciência. Filhos e pais, esposos e esposas, irmãos e
parentes consanguíneos do mundo são protagonistas do drama evolutivo.
Os observadores, em geral, permanecem no outro lado da vida. Faze,
pois, o bem possível aos teus associados de luta, no dia de hoje, e não
te esqueças dos que te acompanham, em espírito, cheios de preocupação e
amor.
Nesta mensagem psicográfica, reportada pelo Benfeitor espiritual do
médium, o apóstolo nos fala, com particular afeição, de outro tipo de
testemunhas, aquelas que tutelam nossa jornada terrena, nossos guias ou
protetores que nos estimulam para o bem, enquanto aguardam, pacientes,
por nossa melhoria, por nossa redenção espiritual.
Quando nos dispomos, efetivamente, a melhorar e a viver conforme as
leis divinas, esforçando-nos por entender e vivenciar as lições de
Jesus, as boas testemunhas redobram a vigilância, auxiliando-nos a
evitar os equívocos, as quedas, e protegendo-nos dos males da
ignorância, o que fortalece em nós a vontade e a fé em Deus.
Concluímos, pois, que nossos guardiões estão sempre dispostos a nos
auxiliar, nos lances da vida, mas não nos iludamos: eles não farão por
nós o que podemos e devemos fazer por nossas próprias forças: “Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará”?
Por fim, não nos esqueçamos que a maior testemunha de nossos
pensamentos e atos é a própria consciência, a lei divina insculpida em
nós.
Autor: Christiano Torchi
Revista Reformador (Federação Espírita Brasileira)
Revista de Espiritismo Cristão
Ano: 217 – Nº: 2.158 – Janeiro de 2009
Páginas: 10 à 12
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