Quando Kardec pergunta aos Espíritos o que é trabalho, a resposta do Plano Espiritual é contundente: Trabalho é toda ocupação útil (“O Livro dos Espíritos”, q. 675). Para entendermos esta resposta, temos que admitir o trabalho como sendo uma lei divina.
Jesus, quando encarnado entre nós,
disse-nos: “Meu Pai trabalha incessantemente, e eu trabalho também.” –
João, capítulo 5, v. 17. Nesta expressão, o Mestre, de certo modo,
consagra o trabalho como uma lei.
É com base neste conceito de utilidade
que vislumbramos o trabalho como algo necessário à vida; a vida no seu
sentido mais amplo, uma vez que não podemos deixar de considerá-la em
outros mundos.
Há quem ache o trabalho um castigo de
Deus, diante do incidente envolvendo as figuras mitológicas de Adão e
Eva, no jardim do Éden. “Do suor do teu rosto comerás o teu pão…”
(Genesis, cap. 3:19). Para nós, espíritas, o trabalho, longe de ser um
castigo, é antes de tudo uma oportunidade de progresso. Sem o trabalho,
nós estaríamos condenados eternamente à estagnação. Não evoluiríamos.
Graças ao trabalho, o homem tem
modificado o mundo. As cidades, com seus grandes edifícios, são
resultados do trabalho. A face do Planeta muda a todo instante, devido à
ação persistente do homem, na busca de melhores condições de vida. É
esta a parte visível da transformação que não cessa e, ao que tudo
indica, parece não ter fim.
Porém precisamos entender que o trabalho
é também uma terapia. Envolvendo-nos com as tarefas do dia a dia,
aquelas consideradas úteis, conseguimos nos libertar dos pensamentos
sombrios e dos desequilíbrios emocionais tão comuns nos dias atuais.
Os Espíritos Superiores são
peremptórios, ao nos assegurarem que, diante dos obstáculos que
deparamos no cotidiano, uma receita infalível é trabalhar. Antonio
Gonçalves da Silva “Batuíra” (1839-1909), no livro Mais Luz!, psicografia de F. C. Xavier, esclarece-nos que uma das soluções dos problemas humanos é: “trabalho, trabalho e mais trabalho”.
Transportando estas reflexões para o
campo da mediunidade, o médium consciente de suas responsabilidades, não
pode deixar de lado o serviço que lhe compete realizar. São muitas as
pessoas que dependem de sua ajuda, para obterem alento e continuarem a
viver. O mesmo raciocínio diz respeito aos desencarnados. São inúmeros
os espíritos sofredores que buscam no médium o recurso necessário para
se libertarem das paixões, a que se entregaram, antes do retorno ao
mundo invisível.
Mediunidade é uma faculdade ou um dom
que não pode ser menosprezado. Ela precisa estar o tempo todo em ação.
Não exercê-la, justificando empecilhos ou que já trabalhou muito não é
uma boa decisão. Para nós, espíritas, o trabalho é contínuo; é um perene
recomeçar.
Há quem espere encontrar no Outro Lado
da Vida, o descanso, o repouso ou a eterna contemplação. Entende que o
que realizou aqui, na Terra, é suficiente. Ledo engano! Tomemos como
exemplo os grandes luminares da Vida Superior e veremos que sua virtude
primeira foi o compromisso com o trabalho. O grande prazer deles foi
servir o próximo, reerguer almas, inoculando nelas a fé e a esperança no
futuro.
Nós, que ainda nos encontramos em
estágio muito distante desses Paladinos do Bem, temos que aprender a
evoluir, através do trabalho, ou seja, da ocupação útil. As casas
espíritas oferecem várias alternativas para nos empregarmos, preenchendo
os espaços vazios, que por má vontade deixamos surgir. Devemos refletir
sobre uma expressão muito conhecida no meio popular que diz: “Mente
vazia, oficina do diabo”, simbolizando os riscos que representam ficar
parado, sem fazer nada em benefício do próximo.
A vida sempre nos proporciona
oportunidades de ler um bom livro, ouvir uma palestra instrutiva ou
participar de algum curso que abra a nossa mente para outras percepções.
Empregar algumas horas da semana para
minorar o sofrimento do nosso próximo é um importante investimento
espiritual. Fazer isto com prazer é melhor ainda. Não devemos nos
esquecer de que somos seres interdependentes; precisamos uns dos outros;
aquele que estiver em melhores condições ajuda o que estiver numa
situação desfavorável.
Segundo Emmanuel, no livro Instrumentos do Tempo, psicografia
de Chico Xavier, o minuto é dádiva divina que se repete infinitamente
em nossa estrada. Usando-o, é possível a realização de surpreendentes
milagres em nossa vida. Pede-nos tão-somente trabalho, boa vontade e
diligência no Bem para trazer-nos sublimes edificações…
Diz ainda o referido Benfeitor que o
espírito mais elevado é oportunidade valiosa ao nosso curso de
aprimoramento e sublimação. Entretanto, reconhecendo-se que a passagem
do sábio ou do santo é sempre rara ao nosso lado, aproveitemos o
trabalho e a convivência do caminho vulgar, para as tarefas da educação
recíproca.
E continua o sublime Instrutor: “O
doente é nossa oportunidade de valorizar a saúde. O sofredor é um apelo
ao progresso de nossas qualidades incipientes. A aflição é porta aberta à
nossa capacidade de auxílio. A ignorância é meio favorável à extensão
da luz que já nos cerca”.
Aproveitemos, portanto, o ensejo que o
trabalho sempre nos oferece, como uma porta que se abre todos os dias,
para que nós possamos servir mais e mais.
Autor: Geraldo Ribeiro da Silva
(Grupo Espírita “Batuíra” – SP)
Jornal da Mediunidade – Informativo (meses de Novembro e Dezembro), nº 20 – Uberaba – Minas Gerais / 2009.
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