A História nada diz a respeito de Jesus. Nenhuma
referência, nenhuma frase, nenhuma palavra sobre o maior vulto, e a mais
pulcra entidade que passou pela Terra.
Mas, afinal, que importa esse desdém da História, se é
precisamente através dessa falha que se vê a figura majestosa do
soberano Mestre ostentar-se em pleno fulgor? Que outra individualidade
cantada nas páginas da História logrou jamais impor-se como Jesus
Cristo? Quem, como ele, conseguiu assinalar sua travessia por este orbe,
com sulcos tão indeléveis?
Onde aquele cuja memória se haja perpetuado como a
sua, acentuando-se cada vez mais vivamente nos corações à medida que o
tempo decorre? Os séculos que se sucedem sobre as gerações que passam,
longe de empanarem o brilho do seu nome, fazem-no, antes, refulgir cada
vez com mais desusado esplendor. Só ele é o astro cujo brilho se vem
intensificando progressivamente, ao invés de esmaecer como sucede
àqueles que a História insculpiu no firmamento de suas páginas.
Jesus, por isso, prescinde, sem prejuízo, de tudo que
a seu respeito pudesse, porventura, dizer a História. Ele encerra em si
mesmo a verdadeira história da Humanidade. Jesus é a história viva do
homem.
A História são relatos do passado da Humanidade.
Jesus é a história do porvir humano. A História diz o que fomos, Jesus
diz o que seremos. A História reflete as máculas e fealdades de nossa
natureza inferior; Jesus assinala as belezas de nossa natureza superior.
A História falseia em muitos pontos, arrastada pela influência de
paixões rasteiras, Jesus é sempre a expressão da verdade para os que têm
olhos de ver. A História é letra, Jesus é vida. A História é e será uma
obra inacabada, Jesus é o modelo vivo, é o protótipo da perfeição para
ser imitado. A História é a carne, Jesus é o espírito. A História é o
repositório das contradições, dos atos de egoísmo, das lutas
fratricidas, Jesus é o conjunto das harmonias, é o altruísmo, é o fiel
reflexo do Supremo Amor.
De tal sorte, porque havia Jesus de figurar na
História, se ele mesmo é a verdadeira história do homem? História viva,
completa, sem falhas, sem lacunas, sem erros; história que se não limita
ao registro de um pretérito mesquinho, mas se desdobra em páginas
brilhantes, que nos acenam com um porvir glorioso.
Quando o homem compreender o Filho de Deus, cairá de
seus olhos o véu que lhe oculta o futuro, porque o Filho de Deus é a
visão clara desse futuro. Então, o homem saberá que Jesus, esse Jesus
que está excluído da História, é, em verdade, a História de sua
História.
Livro: Nas Pegadas do Mestre
Autor: Vinicius (pseudônimo) – Pedro de Camargo
8ª Edição em 1992 – Editora Federação Espírita Brasileira (FEB) –
Páginas: 239 até 240 – Brasília-DF – 1933
Nenhum comentário:
Postar um comentário