“Então
disse Pilatos aos principais sacerdotes e à multidão: Não acho culpa
alguma neste homem. Mas eles insistiam ainda mais, dizendo: Ele agita o
povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até
aqui em Jerusalém.” (Evangelho)
Segundo
o juízo do mundo, Jesus foi um criminoso. Como tal, instauraram
processo contra ele; arrastaram-no à barra dos tribunais, onde, após
sumário julgamento, foi condenado e justiçado entre ladrões.
Onde
há criminoso, há crime e há vítima. Jesus, neste caso, é o criminoso.
Qual o seu crime? Onde a vítima ou as vítimas do fato delituoso que
lhe imputaram?
Qualifiquemos
o réu. Seu nome é Jesus, o Cristo. Seus pais: José, o carpinteiro, e
Maria de Nazaré. Conta 33 anos. Natural de Belém de Judá. Ocupa-se
em curar os enfermos, erguer o ânimo abatido dos desgraçados, e difundir
uma doutrina estranha, cujas bases assentam no amor do próximo, no
culto da verdade e da justiça, e no aperfeiçoamento próprio.
Interrogado
sobre a culpa que lhe atribuíam, nada respondeu. Não obstante,
encontraram razão para processo, julgamento e condenação. Nenhuma voz
se levantou em sua defesa: inúmeras se ergueram com veemência para o
acusar. Seus amigos eram poucos e tímidos, colhidos entre os párias da
sociedade. Seus inimigos eram ricos e poderosos; dirigiam a política e a
religião dominante.
E,
afinal, de que delito o acusavam? Conviver com os humildes? Saciar os
famintos? Sarar enfermos? Nada disso. Do terrível libelo articulado
contra ele não consta que o acusassem pelo fato de distribuir pães e
peixes, e, muito menos, por limpar leprosos e dar vista a cegos.
Naquele tempo escasseavam os médicos e abundavam os doentes; o réu
profissional dormitava ainda. Não havia mesmo inspectoria de higiene.
Demais, Jesus não ministrava drogas nem poções. Debelava as doenças,
porque, diz a Escritura, “a virtude de Deus estava com ele para curar”.
A
política e a fé vigentes não se amotinaram, pois, por motivo das
curas. Não foi esse o crime do Filho de Maria. Qual teria sido,
então? O crime de Jesus Cristo é o mesmo pelo qual tem respondido, e
ainda respondem, neste mundo, todos os arautos da verdade, todos os
pioneiros da justiça, todos os apóstolos da liberdade: instruir os
ignorantes, defender os oprimidos e expoliados, amparar os fracos, remir
os escravizados – numa palavra – ensinar o povo.
Conhecidos o crime e o criminoso, cumpre rematar, apontando as vítimas. Tais são elas: a hipocrisia desmascarada, o despotismo vencido, a exploração desfeita.
Livro: Nas Pegadas do Mestre
Autor: Vinicius (pseudônimo) – Pedro de Camargo
8ª Edição em 1992 – Editora Federação Espírita Brasileira (FEB) –
Páginas: 103 até 104 – Brasília-DF – 1933
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