“Temos um altar.” Paulo – Hebreus 13:10
Ao longo de nossas encarnações construímos altares com ou sem
requinte, com diversos tipos de material: mármore, madeira, ouro,
adornados com variados perfumes, flores e preciosidades múltiplas.
Quase todos de conformidade com os poderes aquisitivos daqueles que o
desejavam utilizar, muitas vezes, para exibir o poder temporal através
da condição pecuniária, esquecendo-se de que seu fim maior está no
despertamento da consciência para ampliação e solidificação da fé na
existência real – a espiritual. Daí Paulo discorrer sobre a necessidade
maior de construirmos nosso altar íntimo.
A finalidade precípua dos templos com seus altares respectivos está
em motivar o ser a reverenciar Deus, o Senhor da Vida que, em primeira
instância, por ser espírito, deve ser adorado em espírito e verdade,
conforme Jesus disse à Samaritana, narra-nos João.
A construção do nosso altar íntimo está justamente na vivência ou
convivência com o próximo, que é a ponte de relacionamento com Deus.
Consagrar o coração à Celeste Bondade, oferecendo o que há de melhor
através do amor ao pedinte, fortalecerá nosso elo com os céus, pois é o
Discípulo do Amor que novamente nos adverte: “Como amar a Deus que não vemos se não amamos o próximo que vemos”?
Está o próximo na pessoa de um familiar, de um colega de trabalho, de
um transeunte. É do resultado desse convívio que surgirão as
conquistas, as asas espirituais para voarmos cada vez mais alto,
ampliando a visão, enxergando mais além. É Emmanuel quem nos fala
possuirmos o que doamos.
Saulo era um homem admirável: posses materiais, cultura ampla,
família invejável, Doutor da Lei, provavelmente invejado e odiado por
muitos. Foi discípulo de Gamaliel, homem de cultura imensa e coração
bondoso. No sentido comum o mundo lhe sorria, porém Deus reservava-lhe
outros horizontes: queria-o como “Pescador de Almas”, daí, surgiu Ananias, instrumento do Pai a lhe convocar em direção oposta.
As proximidades de Damasco lhe são o palco de transformações
vertiginosas. Com o coração carregado de ódio, Saulo busca saciar-se
através do derramamento de sangue inocente, contudo Jesus modifica-lhe
os planos. Surgindo-lhe à frente, ofuscando o Sol em pleno meio dia,
indaga: “Saulo, Saulo por que me persegues?”. O jovem tarsense, diante do poder inquestionável personificado pela luz enceguecedora, responde: “Senhor, que queres que eu faça?”.
Eis a autoridade temporal do homem aniquilada pelo poder espiritual de
Jesus. Inteligente, observador, Saulo se rende e coloca-se ao dispor do
Mestre. Moisés era-lhe o alicerce, nele estribado servia a Deus. O
Homem de Nazaré oferece-se como novo suporte, e Saulo, diante da
supremacia do Senhor, não titubeia. A espada de Saulo simbolizando
autoridade e violência é substituída pela cruz da submissão e doação ao
Pai das Luzes. Pela causa do Crucificado, de perseguidor que era
submete ao gládio da “Justiça da Força”, daí é perseguido,
preso, surrado, porém, não esmorece e constrói seu altar íntimo com
encantos que o ladrão não rouba e o aniquilamento carnal não destrói. É
um exemplo digno a ser seguido.
Nosso altar íntimo nos convoca à tolerância, a pensarmos mais no “nós” e menos no “eu”,
a entendermos que a verdade que fere é sempre dispensável, pois foi
para defendê-la que sangue inocente foi derramado nos conflitos entre
povos e nações, patrimônios da humanidade destruídos, famílias
destroçadas, o Mestre Crucificado. Onde estão essas verdades temporais
nas “Guerras Santas”? O progresso as destroçou! Kardec
nos afirma que fora dessas verdades, fora dessas igrejas e religiões há
salvação. Nas palavras do maior homem da história a verdade necessária é
a que nos fará livres, responsáveis e unidos no ideal de servir. O
alicerce dessa verdade é a caridade, ela é o nosso suporte inamovível,
indestrutível.
O homem que se julgar forte na extensão e na abundância de suas
glebas, na beleza e saúde físicas, no poder político, nos saberes que
nosso orbe de provas e expiações possibilita, ou qualquer outra coisa
que o dinheiro pode comprar, com certeza está equivocado. Tudo isto e
tudo o mais, materialmente falando, só o fará livre e efetivamente forte
se for usado como estribo para a conquista de bens espirituais, e daí,
quanto mais doar e se doar mais livre será, mais formoso será seu altar
íntimo, que o qualificará diante do Senhor da Vida como servo bom ou
preguiçoso e medroso.
O Mestre nos convoca, através do trabalho, a nos apoiarmos no visível, para conquistarmos o invisível, pois, “o essencial é invisível aos nossos olhos”.
O coração deve ser nosso verdadeiro instrumento de visão; com ele
enxergamos mais amplamente, além do horizonte carnal, porquanto, para
Deus o passado e o futuro encontram-se no presente, “Os olhos do Pai estão em todo lugar contemplando-nos a todos, nada Lhe passa despercebido. Nesse sentido, não há injustiça nem tampouco injustiçado, colhemos o que plantamos”. Busquemos, portanto, santificar nosso altar íntimo, pois é para isso que o nosso Sublime General nos arregimentou.
Autor: Waldemar Petri
Instituto Espírita Bezerra de Menezes – IEBM – Niterói – RJ
Jornal Informativo “O Espírita Fluminense”
Nº de Edição: 344 – Página: 10 – Setembro / Outubro 2012
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