
Apreciando a convicção e a firmeza com que um certo centurião romano lhe solicitara a cura de sua ordenança, disse Jesus: Em verdade afirmo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé. E, digo mais: muitos virão do Oriente e do Ocidente, e hão-de sentar-se com Abraão, Isaac e Jacob no reino dos céus; e certos filhos do reino serão excluídos.
Ao leproso samaritano que se prosternara aos seus pés, agradecendo-lhe a graça recebida, disse Jesus: Ergue-te e vai; a tua fé te salvou.
Os amigos do judeu paralítico, interessados em sua cura, não podendo penetrar na casa onde se achava o divino Esculápio do corpo e da alma, alçaram o leito do enfermo ao telhado e, dali, o arriaram por meio de cordas. Reza o Evangelho que Jesus, vendo a fé daqueles indivíduos, dissera ao paralítico: Tem bom ânimo, teus pecados são perdoados. Levanta-te e anda.
Como se denomina essa fé que o Mestre testificou nas três personagens supra citadas? E' a fé inominada, por isso que a verificamos no judeu, no samaritano e no estrangeiro, considerando ainda que neste último aquela virtude se apresentou com tal ardor como jamais Jesus encontrara em Israel.
Assim, em verdade, é a fé: a mesma virtude onde quer que se manifeste. Não há duas — porém — uma só fé. Pode variar em grau ou intensidade como a luz, mas sempre será a mesma virtude, como a luz é invariavelmente luz em toda a parte.
Por essa razão a fé dispensa qualquer apêndice ou qualificação que se lhe queira adicionar.
Esta ou aquela denominação dada à fé importa em desnaturá-la, precisamente porque seu característico é a catolicidade, que quer dizer universalidade.
Enclausurar a fé nos redutos de certos e determinados credos religiosos, é absurda pretensão, porque aquela virtude é força, é potência incoercível que se não submete a nenhuma espécie de restrição. Dar-lhe este ou aquele título é outra estultícia, visto com é única, dispensando, por isso, qualquer rubrica.
Rotulam-se as garrafas de vinho, porque vinho há de vários paladares e de muitas qualidades.
Rotulam-se igualmente as peças de morim, pois fabrica-se esse tecido mais grosso ou mais fino, cru ou alvejado, com maior ou menor metragem, estreito, largo e enfestado. Daí a necessidade de distinguir-se tanto o vinho quanto o morim pelos nomes de batismo que lhes dão os fabricantes.
Não se deve fazer o mesmo com a fé: ela é una, indivisível, inconfundível, universal.
Quando se convencerão desta verdade as múltiplas igrejas e religiões esparsas pela face de nosso orbe? Quando se inteirarão desse ensinamento de Jesus as seitas dogmáticas que militam sob o pálio do Cristianismo?
Quando estas e aquelas se compenetrarem deste fato, conjugarão certamente os seus melhores esforços no sentido de combaterem o vício e o crime, a hipocrisia e o materialismo, a violência, a guerra, a corrupção e a enfermidade — flagelos estes que infelicitam e degradam a Humanidade, como efeitos e heranças do pecado que todos eles são.
LIVRO: EM TORNO DO MESTRE
AUTOR: PEDRO DE CAMARGO – PSEUDÔNIMO DE VINICIUS
EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
6ª EDIÇÃO – ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 (PÁG. 311-312)
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