sábado, 6 de agosto de 2011

A Arte


O mais profundo conhecedor da natureza humana; aquele para quem o coração do homem deixa de ser o abismo insondável e misterioso que é, transformando-se em livro aberto, disse já há quase dois mil anos: Nem só de pão viverá o homem.

A justeza desse conceito é um fato incontestável para honra da Humanidade. Felizes os que já experimentaram em si próprios a sua realidade. E' sinal evidente de haverem galgado mais alguns degraus da simbólica escada de Jacob, cujas extremidades se apoiavam respectivamente, uma na Terra, outra no Céu.

O homem não viverá só de pão. Até mesmo no que se refere ao tempo, em que o verbo foi aplicado, há sabedoria. Muitos vivem só de pão, mas não viverão; dia virá em que sentirão necessidade de mais alguma coisa. Saberão, então, que o homem vive também da inteligência, vive também do sentimento .

Acima das sensações físicas que se verificam no domínio da animalidade, existem vibrações psíquicas no reino da espiritualidade. Os prazeres que decorrem desses dois campos de ação, onde nossa alma se agita, guardam entre si a diferença que existe entre o dia e a noite, a luz e as trevas.

Nosso Espírito, tanto como nosso corpo, tem necessidade que precisam satisfeitas. Daí a origem da arte.

A arte corresponde a uma inalienável aspiração de nossa alma, cuja divina natureza propende para o belo, para o justo, para o verdadeiro.

De fato, que é a arte, em sua genuína acepção, senão o esforço do Espírito prisioneiro da carne, em busca de uma perfeição que não existe neste mundo? "Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito."

A vida humana, desacompanhada da arte — o que vale dizer, sem ideal — perde o melhor de seus encantos, recuando consideravelmente para planos inferiores.

E' tão necessário ao ritmo do Universo o pensamento de Newton, como o canto do rouxinol — disse um grande pensador contemporâneo.

Anunciando o reino de Deus e afirmando que esse reino está no interior de nós próprios, que fêz Jesus senão incitar a Humanidade à conquista do ideal, desse ideal que representa o senso mesmo da vida? E dando-se em sacrifício por esse ideal, que fêz senão alcandorá-lo à mais alta esfera que nos é dado conceber?

Deus é o Supremo Artista. A criação, com as indizíveis maravilhas que encerra, é, em sua ex­pressão objetiva, a arte levada ao infinito. A verdade, a justiça e o amor são, a seu turno, revérberos da arte em sua expressão subjetiva.

Tanto no concreto como no abstraio, o belo pode ser sentido, pode ser admirado. A arte é a ciência do belo; por isso, a ciência do coração.

Cultivá-la, portanto, ao lado do trabalho honesto, é elevar o nível moral da vida; é educar a mente, é desenvolver a inteligência, é aprimorar os sentimentos.

LIVRO: EM TORNO DO MESTRE

AUTOR: PEDRO DE CAMARGO – PSEUDÔNIMO DE VINICIUS

EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

6ª EDIÇÃO – ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 (PÁG. 261 – 262)

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