
Diz o mandamento: Amai o próximo como a vós mesmos.
Os homens, porém, ao invés de amarem o próximo, amam as suas qualidades e virtudes,
principalmente quando essas virtudes incidem beneficamente sobre eles.
Daí porque os homens acham difícil, impossível quase, amar os inimigos, os iníquos e maus.
E' preciso que os homens entendam e assimilem bem o espírito do mandamento para que se
não equivoquem amando as virtudes do próximo e não o próximo mesmo, como estatui o
divino preceito.
E' natural que o homem admire a virtude, o bem e o belo; porém, cumpre notar que tais expressões designam coisas abstratas, mesmo inexistentes se desacompanhadas do agente através do qual se manifestam.
Amemos, portanto, o próximo, o indivíduo em si, tal como se acha no momento em que o encontramos no caminho da vida. Amemos o doador mais que as suas dádivas, amemos o próximo e não somente a sua bondade.
Assim não teremos maiores dificuldades em amar os maus, por isso que, aborrecendo, embora, as suas maldades, amaremos o próximo, amaremos o nosso irmão, como nós, filho de Deus. Não é certo que nós nos queremos tais como somos, isto é, a despeito do que somos? Consideremos que aquilo que nos aborrece e repugna não é o mau, é o mal que está nele, mas não é ele.
O Deus-Pai, revelado no Evangelho, abomina o pecado, mas ama o pecador.
Nada se sabe acerca da vítima dos salteadores de que nos fala Jesus em sua parábola. Seria ele bom, justo e amorável? Ou seria mau, iníquo e perverso ?
Não se cogita das virtudes ou dos defeitos do indivíduo, mas unicamente do próprio indivíduo. O samaritano que lhe prestou assistência, condoído dos seus sofrimentos, foi o seu próximo, porque o amou, cumprindo no amor o supremo e excelso mandamento . Façamos o mesmo.
LIVRO: EM TORNO DO MESTRE
AUTOR: PEDRO DE CAMARGO – PSEUDÔNIMO DE VINICIUS
EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
6ª EDIÇÃO – ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 (PÁG. 279 – 280)
Nenhum comentário:
Postar um comentário