
Este é um
dos fenômenos mais singulares que ocorrem em todos os casos de morte
natural e, até mesmo, em algumas mortes subitâneas, por acidentes
diversos.
A pessoa,
nos instantes finais de sua existência, vê passar diante de si, como
numa tela de cinema ou num monitor de vídeo, toda a Vida que está
prestes a deixar. Os primeiros meses do renascimento, a pré-infância, a
infância, a puberdade, a adolescência, a juventude e a fase adulta,
tudo, tudo que foi experimentado em cada um desses estágios do
desenvolvimento bio-psicológico do ser humano, vem à tona com uma
riqueza de pormenores, absolutamente, incomum.
Deve-se este
fenômeno ao registro minucioso feito pelo corpo perispiritual de todos
os acontecimentos vividos pelo ser humano em cada uma de suas
existências. Nada deixa de ser fixado pelo envoltório sutil da alma, e
é, graças a essa transcrição minuciosa, que podemos, aqui mesmo, em
nosso mundo e, mais tarde, na Vida Espiritual, lembrar-nos de todas as
nossas existências pregressas.
Essa visão
retrospectiva possibilita ao ser uma contemplação crítica e analítica de
todas as ações por ele praticadas, durante a última existência, num
prévio julgamento consciencial, com vistas à situação que ele merece na
Pátria Espiritual.
Através
desse retrospecto, pode o espírito avaliar a imensa distância que ainda o
separa de um viver, realmente, pautado dentro da legislação divina. Por
outro lado, verifica-se, também, que até o centavo que um dia doamos,
como esmola, ao mais humilde dos pedintes, ali está registrado.
0 fenômeno é
instantâneo. Acontece num átimo. 0 que mais importa, entretanto, não é a
sua duração, mas a sua qualidade. Mesmo os segredos mais íntimos que,
por vezes, o ser humano reprime para o seu inconsciente, vêm à tona com
absoluta fidelidade, numa demonstração de que nada permanecerá
enterrado, para sempre, nos porões da mente.
E isto apenas confirma as palavras de Jesus, quando disse:
Nada há oculto que não venha, um dia, a ser conhecido.
Nessa
retrospectiva, os fatos negativos servem de advertência, e possibilitam
ao espírito entrever as consequências cármicas que, no futuro, eles
desencadearão. Isto nas almas -mais esclarecidas, com senso de
responsabilidade e noções precisas de Vida Eterna e reencarnação. Já os
fatos positivos, também recordados, servem como estímulo a um maior
crescimento moral e espiritual nas novas dimensões da Vida em que a alma
está penetrando.
O grande
vate português Luiz de Camões, em soneto célebre, afirma: – Numa hora,
encontro mil anos e é de jeito que em mil anos não encontro uma hora… De
fato, o tempo psicológico do espírito e suas vivências espirituais não
são medidos exteriormente com os parâmetros habituais dos ponteiros dos
relógios. Esse tempo não cronológico, representado pelo acúmulo de
experiências vividas, só pode ser avaliado, interiormente, em visões
retrospectivas, no instante da morte, ou nos estados de emancipação da
alma. No sonho, no sono hipnótico ou sonambúlico, é perfeitamente
possível ao espírito reviver, em segundos, fatos que ocuparam, por
vezes, metade de uma existência.
Ao despertar
no Além e na posse integral dessa visão panorâmica de sua última
existência, o espírito transformar-se-á no grande juiz de si mesmo, no
tribunal silencioso de sua consciência…
Cap. 25 do livro Morrer e Depois
Autor: Waldo Lima do Valle
Editora: A União
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