O
valor de nossos feitos não está nas proporções vultosas desses feitos.
Deus não olha para o volume, nem para a quantidade, mas para a
qualidade. Ele não quer o muito, quer o bom, quer o melhor. É
preferível, pois, o pouco bom, ao muito regular.
Nossas
obras devem ser feitas com alegria e singeleza de coração, sem tédio
nem cansaço, sem intenção reservada. A virtude exclui cálculos de
qualquer espécie. Todo o bem que fazemos importa no cumprimento dum
dever contraído. “Fazei tudo que puderdes e dizei depois: somos servos inúteis, fizemos somente o que devíamos” – tal é a palavra do Evangelho.
É um erro exaurirmo-nos numa labuta febril e penosa, com o propósito de nos tornarmos mais merecedores aos olhos de Deus: “Misericórdia quero e não sacrifícios.”
A
vida, mesmo considerada sob o aspecto da existência terrena, é um dom
precioso e como tal deve ser vivida. Destruir-lhe o encanto natural;
reduzi-la a uma série de atos forçados; transformá-la, enfim, num fardo
que se arrasta penosamente, não é virtude, é delito.
Os
reclusos do claustro, furtando-se ao convívio social,
incompatibilizando-se com a natureza em todas as suas manifestações,
longe de ser aproximarem do céu, como pretendem, distanciam-se dele;
porque todo o móvel de seus atos se funda num requintado egoísmo. O
reino dos Céus é daqueles que se tornam como as crianças, diz o Mestre.
Onde a simplicidade e a inocência da criança, nessa atitude estudada,
nessa vida egoística, cujo único fito se resume na conquista duma grande
recompensa.
A verdadeira virtude é aquela que a si mesma se ignora. Os humildes jamais se julgam seres privilegiados. “Bem aventurados os simples de espírito, porque deles é o reino dos Céus”
– reza o Sermão da Montanha. Bem aventurados aqueles que fazem o bem e
não se lembram de que o fizeram. A recompensa é sempre grande para os
que nela não pensam, e é sempre mesquinha para os que a têm como móvel
de seus atos.
Agir
por amor, sem aflições, sem ânimo excitado, fruindo desse mesmo amor um
doce e suave prazer – eis o ideal da vida. Os que assim procedem são
felizes. Nunca se queixam de ingratidões, nem de cansaço. O tédio e o
mau humor jamais os atingirão. Vivem com alegria de viver: não se
esgotam, nem se consomem. Suas energias, tanto físicas como
espirituais, são sempre renovadas, mantendo o equilíbrio geral.
Ao
homem não compete fazer ajustes com Deus: cumpre-lhe amá-lo e
obedecer-lhe. Aqueles que prometem fazer isto ou aquilo, sob a condição
de lhes ser concedida determinada mercê, desconhecem por completo o
caráter da Divindade. Pretendem fixar a paga, estabelecer o galardão.
Insensatos! Deixai a Deus dar-vos o que bem entender, pois será sempre
mais e melhor do que aquilo que concebeis em vosso egoísmo.
Não
convém pedirmos a extensão dos nossos méritos: a Deus pertence esse
mister. Ninguém é bom juiz em causa própria. Trabalhemos com
simplicidade, com alegria: Deus nos dará o que for justo.
Não
convém, tão pouco, correr com o fito de ganhar dianteira, porque muitos
últimos serão primeiros, e muitos primeiros serão derradeiros.
Eis
o que nos ensina Jesus através da Parábola dos trabalhadores da
undécima hora, inserta no Evangelho segundo Mateus, capítulo vinte.
Livro: Nas Pegadas do Mestre
Autor: Vinicius (pseudônimo) – Pedro de Camargo
8ª Edição em 1992 – Editora Federação Espírita Brasileira (FEB) –
Páginas: 112 até 113 – Brasília-DF – 1933
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