sábado, 24 de setembro de 2011

A Soberania da Lei


Amai-vos uns aos outros — tal a lei soberana. Mas os homens, em sua ignorância e em seu egoísmo, desprezam-na, e mutuamente se hostilizam e se consomem.

Todavia, a Providência Divina, pondo sua. sabedoria ao serviço de sua misericórdia, faz que os homens, mesmo infringindo a lei, venham, afinal, a respeitá-la e cumpri-la. Deus tira dos próprios erros e insânias dos homens o meio de corrigi-los e regenerá-los.

Observando-se o leito de certos rios, vemos ali grande porção de seixos lisos, polidos, com. suas superfícies arredondadas e perfeitamente brunidas. No entanto, nem sempre foram assim. Antes, eram pontiagudos, disformes, arestosos. Entregues, porém, à corrente dos rios, eles se entrechocaram duramente arrastados pelo curso caudaloso das águas em épocas de enchente.

No decorrer desses repetidos embates periódicos, as arestas e os vértices desses seixos foram-se desgastando e polindo pelo atrito, até que, depois de muito se friccionarem, se tornaram lisos, como que envernizados por engenhosa arte.

Assim sucede com os homens. Lançados ao curso da vida, combatem-se, guerreiam-se, devo-ram-se. As paixões entrechocam-se num tumultuar constante. As competições e as rivalidades, em todas as classes, se sucedem continuamente. "O homem é o lobo do homem." Cobiça, orgulho, ciúmes, invejas, quais arestas aguçadas, vão-se ferindo reciprocamente, até que um dia, após longos e repetidos embates, acabam por se destruírem. Surge, então, o homem novo, caráter íntegro, lapidado em todas as suas facetas como o diamante lavrado por mão de habilíssimo artífice.

A justiça e a misericórdia divinas, agindo em concomitância, levam o homem a reconhecer a

soberania da lei. Tudo que a vingança dita, que a cobiça inspira, que o orgulho obriga, que o egoísmo, numa palavra, impõe, se consome e passa.

Só o amor é eterno, só o amor vence e permanece.

LIVRO: EM TORNO DO MESTRE

AUTOR: PEDRO DE CAMARGO – PSEUDÔNIMO DE VINICIUS

EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

6ª EDIÇÃO – ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 (PÁG. 320-321)

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