
Os símbolos valem pelo que representam. Falam através da linguagem muda das linhas, das formas e das alegorias.
Lucas, reportando-se às prédicas do Batista em sua missão de precursor de Jesus, cita a seguinte profecia de Isaías:
"Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,, Endireitai as sitas veredas;
Todo o vale será aterrado E todo o monte e outeiro será arrasado; Os caminhos tortos far-se-ão direitos E os escabrosos planos;
E todo homem verá, então, a salvação de Deus."
Essa profecia é uma bela imagem da Justiça, representada no panorama e na topografia das terras da Palestina. Os relevos, as depressões e demais anfractuosidades dos terrenos, figuram as iniquidades, as opressões e tiranias de que este mundo tem sido teatro.
O aterro dos vales, o arrasamento dos montes, os cortes e recortes nas sinuosidades dos carreiros, transformando tudo em planícies e explanadas, simboliza a obra da justiça reduzindo as anomalias sociais, obra essa que o Emissário divino, Jesus-Cristo, vinha realizar na Terra. Os antigos costumavam representar a Justiça na figura de uma mulher com os olhos vendados, trazendo numa das mãos uma balança, e, na outra, uma espada.
A venda nos olhos significa a imparcialidade de que a Justiça se acha revestida: não faz exceção de pessoas, desconhece as individualidades.
A balança, instrumento de pesagem que registra todas as diferenças para mais ou para menos, cujo fiel oscila mediante a mais ligeira pressão exercida sobre quaisquer das conchas, simboliza a justeza com que age a Justiça, dando a cada um aquilo que de direito lhe pertence, registrando com admirável precisão todas as nuances e matizes do mérito ou do demérito individual. A espada, a seu turno, alegoriza a equidade perfeita com que a Justiça se porta. Sua lâmina, ao contrário da do punhal que rasga e dilacera impiedosamente sem jamais ceder ou vergar, é dúctil e maleável sem que, contudo, deixe de ser retilínea.
Tal é como se imaginava outrora a Justiça, a divina Têmis: imparcial como aquele que, de venda nos olhos, julga o fato sem atentar para a pessoa que o praticou. Exata e precisa como a balança cuja sensibilidade mecânica acusa as mais insignificantes diferenças para mais ou para menos. Flexível como a espada que assume curvaturas várias consoante exijam as necessidades do golpe que desfere, voltando, invariavelmente, à posição reta.
— Imparcialidade, flexibilidade e exação — eis os predicados inseparáveis da Justiça. A ausência de qualquer deles desvirtuará sua natureza. Se lhe faltar flexibilidade, será cruel. Se lhe faltar exação, será defectível e falha. Só o vero Cristianismo nos oferece a expressão da Justiça indefectível, proclamando com o Evangelho: A cada um será dado segundo suas obras.
LIVRO: EM TORNO DO MESTRE
AUTOR: PEDRO DE CAMARGO – PSEUDÔNIMO VINICIUS
EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA - 6ª EDIÇÃO – BRASILIA – DF
ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 (PAG. 234-235).
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