sábado, 4 de junho de 2011

A Grande Lição


De todos os prismas e aspectos sob os quais Jesus é visto e estudado, o de Mestre é, a nosso ver,aquele que de mais perto nos interessa e que melhor define sua missão junto da Humanidade.

De fato, Jesus se apresenta no cenário terreno como mestre. Por isso teve discípulos e ocupou-se em ensiná-los pela palavra e pelo exemplo. Segundo suas categóricas afirmativas, em tal se resumia e se condensava a suprema razão de sua passagem por este orbe.

Mas, que teria ele vindo ensinar aos homens? Que matéria, que disciplina seria aquela que

justificou e determinou a encarnação do Verbo divino ?

A propósito de tão magno assunto, assim se exprime o padre Vieira:

"A Sabedoria divina descendo do céu à Terra a ser Mestre dos homens, a nova cadeira que instituiu nesta grande universidade do mundo e a ciência que professou foi só ensinar a ser santos, e nenhuma outra. A retórica, deixou-a aos Túlios e aos Demóstenes; a filosofia, aos Platões e aos Aristóteles; as matemáticas, aos Ptolomeus e aos Euclides; a médica, aos Apoios e aos Esculápios; a jurisprudência, aos Solões e aos Licurgos; e para si tomou só a ciência de ensinar o homem a ser bom e justo, honesto e amorável.".

Diz bem o grande tribuno lusitano. Em realidade, Jesus veio ensinar aos homens a ciência do bem. Esta matéria, porém, como, aliás, todas as disciplinas, deve ser ensinada mediante determinado método, obedecendo às leis ou aos princípios pedagógicos que regem a arte e a ciência de educar.

Assim como a alfabetização é a primeira etapa de toda a instrução, da mesma forma a ciência do bem tem o seu ponto inicial, a sua primeira fase, sem cujo conhecimento não se pode prosseguir.

Esse primeiro passo chama-se humildade. E' por isso que o Verbo divino, ao baixar à Terra, deu, desde logo, com o seu nascimento no estábulo de Betlém, o mais frisante exemplo daquela virtude.

Mais tarde, iniciando suas predicações com o Sermão da Montanha, o ensinamento preliminar transmitido foi o seguinte: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

Seguindo as suas pegadas, vamos encontrá-lo admoestando seus discípulos, entre os quais havia surgido a idéia de supremacia, com as seguintes palavras:

"Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes humildes como uma criança, não entrareis no reino dos céus... Sabeis que entre os gentios há príncipes e vassalos, e entre eles os grandes exercem autoridade sobre os pequenos. Não é assim entre vós: mas, quem quiser tornar-se grande em vosso meio, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro, seja o servidor de todos, tal como o próprio Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir."

Logo após, ei-lo a destacar o mesmo ensino, através desta tocante exclamação: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Só assim achareis descanso para as vossas almas." Percutindo na repisada tecla, encontramo-lo a urdir a parábola do fariseu e do publicano, ambos orando no templo. O primeiro da seguinte maneira: "Meu Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, que são ladrões, injustos, adúlteros; nem mesmo como aquele publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, porém, estando a alguma distância, não ousava nem mesmo levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: "O' Deus, sê propício a mim pecador." Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo aquele que se exalta será humilhado, mas todo aquele que se humilha, será exaltado."

Insistindo ainda no mesmo ensinamento, vemos o Mestre, nas vésperas de seu sacrifício, prosternado diante dos discípulos, na atitude de servo, lavando-lhes os pés e fazendo-lhes esta solene observação: Compreendeis o que vos tenho feito? Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque o sou. Se eu, pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros; porque vos dei o exemplo, a fim de que, como eu fiz, assim façais vós também."

Finalmente, chegando o momento supremo, a hora de ser crucificado, o Verbo Divino deixa-se cravar no madeiro infamante, entre ladrões, coroando, com esse ato, a série de exemplificações sobre a importante matéria que constituiu o pivô em torno do qual giram os magistrais ensinamentos que legou à Humanidade.

Entre a manjedoura e a cruz — alfa e ômega do Cristianismo — vemos refulgir, em caracteres indeléveis, a grande lição que ainda não aprendemos: Humildade!

LIVRO: EM TORNO DO MESTRE

AUTOR: PEDRO DE CAMARGO (PSEUDÔNIMO DE VINICIUS)

EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

LOCAL DE EDICAÇÃO: BRASÍLIA – DF – BRASIL / 1939

PÁGINAS: 128 ATÉ 130

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