quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A Teimosia do Meu Riacho Sonhador


Coletânea de Pensamentos e VersosFalei em partir. Falei em ficar...

Vivo sonhando com um mundo diferente...

Um mundo, onde partir e ficar fossem sinônimos. Duas palavras de peso igual. Sem um mínimo de sentimentos de culpa. Sem críticas. Sem agressões alheias. Sem julgamentos precipitados da parte de ninguém. Na espontaneidade de quem fica ou se ausenta, ao natural. Levando a paz, deixando a paz.

Você nunca sonhou com este mundo também? Um mundo cheinho de fraternidade até às bordas. Vasando fraternidade e paz por cima e por baixo, em todas as direções?

Um mundo, onde os rituais da amizade e do relacionamento brotassem desimpedidamente, sem injunções do bom senso ou da distorção de terceiros, que ficam olhando de fora, nas arquibancadas da suspeita e da malidicência. Um mundo, onde os gestos não precisassem ser medidos e o amor não reclamasse contabilidade. Onde a lei da oferta e da procura fosse supérflua. Onde a gratificação interna proviesse apenas da entrega e não do retorno.

Um mundo solidário, sem cobranças, sem vigias, sem olhos indiscretos, sem dívidas atrasadas, sem empréstimos interesseiros, sem despeitos rancorosos, sem cicatrizes, sem devoluções obrigatórias.

Um mundo de gratuidade plena, tudo puro, tudo íntegro, tudo jovial e aberto, vivido na benevolência humana, na magnanimidade de alma, sob as bênções generosas de Deus.

Um mundo de trégüas definitivas, onde o ódio, o rancor, a inimizade, a propotência, a guerra e o egoísmo estivesse mundialmente desterrados.

Um mundo de equilíbrio, consubstanciado na frase imortal de Santo Agostinho: “ Ame e faz o que quiseres “. Equilíbrio sem distorção. Equilíbrio por dentro. Equilíbrio por fora. Fruto do amor que Cristo viveu, ensinou e nos deixou, como herança sagrada.

Um mundo realmente liberto, sem palavras manietadas, sem gestos tolhidos, sem atitudes mascaradas, sem ternuras fingidas. Onde os fracos não ficassem chocados. Onde os discordantes inexistissem. Um mundo sadio, dos pés à cabeça. Sem neuróticos. Sem gente bloqueada. Sem a tristeza dos desafortunados, dos não-libertos, internamente. Um mundo onde as riquezas invisíveis do coração saltassem aos olhos, viessem à tona, inundando as praias da humanidade. Adultos e jovens, crianças e velhos, todo mundo identificando a sua vontade com a vontade do Pai.

E ficassem com a gente, morando na mesma tenda da fraternidade, os que assim decidissem, no mistério do bem-querer.

E partissem em nossa comitiva, os que desejassem nos acompanhar. E seus sonhos casassem com os nossos. Seus anseios fizessem média com os nossos.

E todos os seus problemas se apequenassem, confrontados e fundidos com os nossos problemas. E todas as suas angústias morressem afogadas, no lago tranqüilo do entendimento mútuo, da simpatia recíproca, da admiração correspondida, da esperança partilhada.

E mesmo que alguém discordasse, que não brotasse a mágoa.

E a gente ancorando em outros portos, que não houvesse saudade, inveja, ciúme, ressentimento.

Um mundo solidário, onde a receptividade não fosse tão essencial. Onde a colheita de garantias e confirmações não viesse ao caso. Onde as respostas não fossem importantes.

Tenho certeza. Certeza absoluta. Não é apenas o meu riacho que sonha com este mundo diferente.

Todos os riachos do mundo alimentam este sonho também.

Um mundo mais nosso. Mais talhado à nossa imagem, naquilo que temos todos de mais íntimo, de mais fundo e melhor.

Nas águas do meu riacho navegam frotas, veleiros, barquinhos azuis, carregados de sonhos e anseios.

Anseios de paz. Anseios de fraternidade. Anseios de ternura. Anseios de amizade. Anseios de amor.

Sem a frieza que nos congela. Sem o temor que atrofia. Um mundo de paz e alegria, cantando libertação!

Senhor, transforma em feliz realidade o sonho do meu coração!


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